Quero minha Amazônia de volta; Simão Assayag 

Já os temas mais amplos que fiquem para o Carnaval, que é lindo também. 

Quero minha Amazônia de volta; Simão Assayag  Foto: Katiuscia Ferreira | 24 horas Notícia do dia 04/07/2019

Em 1995 no Livro BOI-BUMBÁ, já defendia que a Amazônia fosse o limite geográfico e cultural do Festival Folclórico de Parintins. Dizia também que nosso Folclore é uma árvore com os pés fincados nos Costumes e Tradição de nossa gente, mas com galhos e folhas livres para procurar luz. A Luz que emana do Sol Amazônico. Isso vale para todos os conceitos e definições de Amazônia. Da Amazônia Legal à Continental e principalmente a Amazônia-Bioma com sua Gente, a Floresta exuberante, rios gigantescos, o colorido dos pássaros, os canto exóticos e os olhos da noite. A Amazônia misteriosa com seus Curupiras defendendo o Meio Ambiente, os Ajuricaba e seus heroísmos. Introduzimos a História do Amazonas, juntamos o erudito ao popular, o sagrado ao profano
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Os Nordestinos já haviam trazido para cá, o Auto do Boi e seu modo de fazer a brincadeira. Veio a dança indígena, seus apelos e sua História. Veio o Charango dos Andes e o Teclado da Zona Franca de Manaus. O artesanato incorporou o boizinho e as bonequinhas dos itens oficiais. A plástica agradece o Clássico trazido pelas mãos do Italiano Irmão Miguel. Tudo isso são as folhas procurando luz para florescerem, colorindo a Arte Parintintin e, depois ver os Frutos se espalharem pelo Brasil afora. As raizes continuavam irrigadas pela chuva amazônica e seu vigor telúrico.

Inserções de outras culturas são bem-vindas quando trazem o vínculo com nossa História, com nossas tradições e, sem descaracterizar nossa Festa do Boi. Já os temas mais amplos que fiquem para o Carnaval, que é lindo também. Política Partidária, Ideologias de qualquer tipo, Costumes que não são nossos, que fiquem maravilhosamente bem nas suas origens. As Escolas de Samba são mais amplas, têm suas regras. Elas podem desenvolver muito bem enredos que vão da Civilização Egípcia à Conquista do Espaço; dos protestos de natureza as mais diversas e, até mesmo o Boi-Bumbá. Aqui não vale a recíproca com o Carnaval-Boi. Se isso vier acontecer, esvazia-se o Festival Folclórico de Parintins. Assistir nossa Festa é muito caro e, aí as pessoas vão preferir o original do Rio, Bahia e Recife.

Em 2017 e 2018, embora com algumas dificuldades, o Caprichoso apresentou um fantástico Boi Amazônico. Participei do Conselho de Artes e, tive a oportunidade de juntamente com Ronaldo Barbosa e outros parceiros, contribuir neste sentido, com a concepção de ‘Sissa-Uma História de Amor’, ‘Boto Romanceiro’, com a História do Cine Teatro Brasil de Parintins; a História da Catedral’ e, a Figura Típica do ‘Calafate da Francesa’. Este ano de 2019, apenas propus a Figura Típica das ‘Lavadeiras do beiradão’ com chapéus de palha, ao invés de turbante na cabeça.

Em resumo, a Apresentação do Tema em setembro/2018 com feições claramente ideológicas e doutrinárias me deixou desconfortável no Conselho. Reclamei, ponderei, mas o espírito do Caprichoso-2019 já estava assentado e a ideia definida. É uma questão de estilo, eu particularmente prefiro os Estados e Países da Amazônia ao invés de Minas Gerais, Bahia ou Rio de Janeiro como Referência. Assim não se corre o risco de aos poucos o Boi ser tragado por enredos não amazônicos e, uma ‘onda’ do ‘politicamente correto’.

Não posso deixar de citar aqui o Comentário dos Jurados de que o Pai Francisco e Catirina deveriam ser Negros e não Brancos pintados de preto porque isso ‘é preconceituoso’. Esquecem que a regra principal do Folclore é a Tradição, Antiguidade (as outras são Persistência, Anonimato e para alguns ainda tem a Oralidade) e, na tradição (desde a criação do Auto do Boi), os Personagens Pai Francisco (também chamado de Nêgo Chico) e Mãe Catirina (também chamada de Catita), são Brancos pintados de preto ou de máscaras pretas. Da mesma forma a Catirina e a Mãe Guiomá, na origem, eram Homens vestidos de Mulher. Se assim fosse feito na Arena, certamente esses jurados entenderiam como machismo, um ‘preconceito para com as mulheres’. Haja saco!

Aqui faço um apelo ao CAPRICHOSO e ao GARANTIDO: Vamos continuar sendo o n*1 no FOLCLORE. Vamos canalizar o talento dos Artistas, a energia do nosso povo que brota do atavismo, da ancestralidade e o imenso volume de dinheiro, para as Propostas Amazônicas.
TRAGAM NOSSA AMAZÔNIA DE VOLTA, além das Lendas – que pelo Regulamento têm que ser Amazônica e da Figura Típica, que pela mesma razão é Regional.

* Simão Assayag Historiador, Compositor, Engenheiro, Professor, Pesquisador e Sócio Fundador do Carpichoso